Intervenção urbana transforma margem do rio em área de convívio público
- Mateus Marcarini Zon
- 6 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Local: Madri, Espanha
Projeto: 2007

Os rios conectam as cidades com sua história, topografia e geografia. Podem ser também espaços democráticos e de inclusão social, dando a pessoas de diferentes classes, origens e culturas as mesmas possibilidades de acesso a sua orla. Essa é a opinião do arquiteto Ginés Garrido, responsável pela revitalização da orla do rio Manzanares, em Madri, um projeto que transformou uma área de rodovias em um dos maiores espaços de convivência da capital espanhola e reconectou a população ao seu patrimônio natural.
O projeto foi pontuado pela criação de parques, quadras esportivas e uma praia urbana, em que tornou subterrâneo 6 km de avenida. Segundo o arquiteto responsável, a maior dificuldade foi fazer a população acreditar nessa mudança, de forma a incentivar a instauração e utilização dos espaços.

As margens do rio Manzanares eram pistas de rodovia e uma área degradada por condições precárias de vivência devido a poluição sonora e física, além da ausência de equipamentos públicos. Visto que o rio era apenas um detalhe na paisagem urbana objetivou-se um projeto para alavancar os aspectos econômicos e, principalmente, sociais da região. Foi quando a prefeitura de Madri resolveu dar outro sentido àquele espaço, priorizando outros modais que não o individual motorizado.

Para Garrido, o diferencial do projeto foi poder realizar uma leitura global do rio Manzanares. “Nós percebemos que era necessário entender todo o curso do rio, não apenas o trecho que passava por Madri”, relembra ele, explicando que a ideia era conectar as pessoas, assim como aquele curso d’água conectava diferentes regiões. Uma das dificuldades encontradas foi o fato da região ser considerada seca, “trazer” o verde seria mais complicado nesse caso.

Os obstáculos não foram só climáticos: em um primeiro momento, a população da cidade era contra a obra. Os equipamentos sociais e esportivos hoje presentes nas margens do Manzanares são um exemplo disso e constituem uma reivindicação dos moradores da região. É preciso em casos assim ter a sociedade aliada aos poderes públicos a fim de instaurar o projeto, é necessária coragem para criar novos espaços que visam trazer melhorias, mas, também, passam por grandes mudanças.
Hoje a região tem áreas livres e de convívio que se estendem por 253 mil m2. Há 17 áreas de recreação infantil, pistas de skate, quadras esportivas, pistas para corrida e escalada, espaços para parada e convívio social e muita oferta de transporte público, além de uma praia urbana no verão. O coordenador do projeto destaca também as avenidas que, com a criação dos túneis, puderam tornar-se grandes espaços verdes. “É uma construção artificial, mas que nos lembra o que somos e o que queremos ser e priorizar”, justifica ele. Há uma forte utilização da água “interativa” que serve como meio de interação entre as pessoas e a noite, por exemplo, é utilizada com uma iluminação mais lúdica.
O arquiteto responsável pelo projeto, Ginés Garrido, defende também que quanto mais espaços públicos há em um país, mais democrático ele é, sendo possível criar novos vínculos com os rios em quaisquer cidades. O espaço tornou-se um indutor urbano dentro da capital, Madri, por abrigar uma vasta oferta de atividades possibilitada por equipamentos, paisagismo e ambiências, que foram criados. A participação da comunidade em geral foi um ponto chave para a instauração do projeto assim como sua posterior utilização, um projeto feito para todos. A integração e ao mesmo tempo separação das rodovias trouxe um novo ar para região, priorizando pedestres, mas sem deixar de pensar nos automóveis. O espaços criados e perímetros que circundam a gleba são habitados como forma de recreação e de passagem.
Arquiteto: Ginés Garrido
Fotografias: Prefeitura de Madrid; Nana Soares / Portal Aprendiz; Outros.
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